sexta-feira, 24 de agosto de 2012


                      

Na calada da noite, ela pegou o telefone para ouvir sua voz. No fundo sabia que era errado, que não deveria, mas ela precisava ouvi-lo antes de dormir. A sua respiração suava como música do outro lado da linha, era incrivel, mas ela sabia que de alguma forma ele percebeu ser ela. Ele disse o seu alô de uma forma tão doce, tão acolhedora. Por alguns segundos ela ficou ali, parada, com os olhos marejados, querendo falar: ''Alô, eu estou com saudades sabia?'' Mas não, ela apenas o ouviu calada, desligou o telefone e continuou a viver. Ela sempre soube que ele reconhecera as suas travessuras, e que imaginava que poderia ter sido ela que havia ligado naquela noite, mas também não pensara que em uma tarde, ele ligaria para ela perguntando se estava tudo bem, porque tinha certeza de que ela quem havia ligado para ele naquela madrugada. Poucas palavras, muito silêncio. Ela não sabia o que falar, ela queria apenas ouvi-lo, ela precisava ouvir qualquer coisa que fosse projetada por aquele celular. Em todo momento seu coração estava disparado, suas mãos suando sem parar. Ela havia saído para ir até a padaria, mas qualquer que fosse o chocolate que ela havia ido comprar, perdeu o gosto, o sentido, diante daquela voz, daquelas risadas. Por dois segundos ela chegou a pensar: ''Vou desligar esse telefone, não posso ouvi-lo mais.'' Mas logo isso saiu de sua mente. Ela sentia algo estranho, era como se eles se pertencessem de alguma maneira, e tudo o que ele perguntara para ela, ela não poderia mentir. Por exemplo se ele lhe perguntasse: ''Vamos fugir para o outro lado do mundo nesse momento?'' Ela diria que sim, ela não saberia dizer não, não poderia mentir, não pra ele. É engraçado como as coisas acontecem, é engraçado ficar meses e mais meses sem ouvir-lo falar e quando derrepente isso acontece, você perde completamente a voz, trava, fica ali estagnada, alucinada, apenas querendo ouvir. Não é loucura, não pode ser! Deve ser uma dose de saudade, regada de um sentimento único que jamais poderá ser entendido ou explicado.
O único problema de tudo isso, de toda essa história que soa como algo tão bonito, é que após essa ligação tudo voltou ao normal. Ambos vivem suas vidas, de formas diferentes, com pessoas diferentes, em lugares diferentes. E nada muda, a saudade é saciada por alguns minutos, mas daqui dois meses ou três, ela vai desejar profundamente ouvir aquela voz, e talvez não vai poder, ou vai poder e esse mesmo ciclo vai se repetir. Coisa triste ter um amor impossível, coisa triste amar algo que já passou, coisa triste esse desperdício de amor não é mesmo?

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